domingo, 15 de setembro de 2013

Jeremias Alves Pires


Olá pessoal,

Se você curte histórias de terror cujos protagonistas são seres amaldiçoados, sedentos de sangue humano e cheios de problemas pessoais, seja bem vindo.
O Conto abaixo foi escrito pelo meu colega Jeremias Alves Pires (escritor), o desenho acima é minha tentativa de ilustrar seu personagem.


Boa leitura

Outros contos deste autor podem ser lidos em seu Blog: Horrorizando.blospot.com



Despertar de um Maldito

Acordo chorando feito uma criança. A dor esmagando o coração me faz lembrar de como é doloroso ser humano. Fico espantado por perceber que ainda sou capaz de chorar.
 
A escuridão da pequena igreja que me serve de abrigo saúda meu despertar. Tenho Companhia. Um morador de rua. Tão bêbado que se tudo começasse a pegar fogo ele não perceberia.
- Quer uma dose amigo?
Não existe maldade na alma dele. Se houvesse, cada um de seus pecados me viria à mente. Pessoas más são livros abertos pra mim. Ele tem sorte.
- Não, obrigado!
- Seus olhos... O que houve com eles?
- Nasci assim! Fique o tempo que precisar, mas não faça bagunça na minha casa!
Dou as costas, fazendo de conta que não me importo com a expressão de repugnância lançada sobre mim. Assim que cruzo a porta, deixo a forma humana pra me tornar um ser espectral. Em poucos segundos uma couraça negra cobre meu corpo, um par de asas de pássaro surgem nas minhas costas, e por fim surge a máscara prateada. Meu visitante cai sentado no chão, enquanto ganho o céu noturno. Enquanto muitos não são capazes de ver qualquer coisa que esteja protegida pelo manto da escuridão, eu vejo brasas. Almas que vão queimar no inferno depois que deixaram os corpos físicos. Não demora muito e uma se revela pra mim em  meio a uma pequena multidão.
- Muito obrigado, voltem sempre!
Na porta do modesto salão, ele se despede das pessoas. Elas o consideram um santo. Sou o único que percebe o olhar descarado que ele faz pra uma de suas fieis. Uma garota de uns doze anos. O maldito pensa nas filhas em casa. Deus... Eu ouço o choro das três. Vejo a ira dele diante disso e a surra aplicada como corretivo. “Controle-se, agora mesmo! Você não pode atacara o infeliz no meio de tanta gente!”. Foco meu olhar nele, pra não ver o coração daqueles o seguem. Pessoas desesperadas, que encontraram nas palavras do maldito conforto. Nenhuma delas nota o estado precário do salão usado paras reuniões, contrastando com o carro zero estacionado logo em frente. “Controle-se! Controle-se! Controle-se!”.
- Irmã Rose, minhas filhas pediram pra avisar que sua sobrinha será bem vinda pra almoçar conosco no domingo...
Meu ataque é tão rápido quanto cruel. Olhos mortais podem ver apenas um vulto negro passar e o soprar de uma forte rajada de vento. Cortei o miserável com minhas garras no rosto. Nunca mais seu olhar cairá sobre outro inocente. Ele grita. Rosto coberto de sangue. As pessoas ao redor dele ficam em pânico. Histéricas. As luzes do salão atrás dele se apagão.
- Você devia acreditar no que prega...
Todos fogem assim que ele é sugado para a escuridão. 



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